Bombinha e caneta: as tradicionais e novas formas de tratar a diabetes
Só em 2016, Salvador registrou 13 mil novos casos da doença
No primeiro dia de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), domingo passado, a situação de uma estudante baiana chamou a atenção. Isabela Coutrim, 15 anos, foi impedida de realizar a prova porque utilizava uma bombinha de insulina fundamental para sua sobrevivência. Ela faz parte das 226 mil pessoas diagnosticadas com a doença na Bahia. Só no ano passado, a capital registrou mais de 13 mil novos casos.
A bombinha de insulina é um dos tratamentos disponíveis atualmente para os pacientes diabéticos, além das injeções de insulina (normalmente aplicadas na barriga). Mas, os pacientes com diabetes vem ganhando outras formas de aplicação do medicamento. Uma delas foi lançada este mês, em forma de canetas descartáveis.
As responsáveis pela novidade são as farmacêuticas Elo Lilly e Boehringer Ingerlheim, que desenvolveram a substância Basaglar, uma nova insulina do tipo basal glargina biossimilar, que vai custar cerca de R$ 45, preço 70% mais baixo do que o medicamento referência hoje. A informação foi divulgada essa semana durante o encontro Desafios da Adesão e o Acesso aos Novos Tratamentos da Diabetes, em São Paulo.
O tratamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início do ano e é indicado para pacientes com diabetes tipos 1 e 2. De acordo com a Anvisa, o biossimilar é uma cópia de um medicamento biológico de referência, no caso, o Glargina. Ele estará disponível em canetas descartáveis. Cada caixa vai conter 300 refis.
Sobrevivência
Diabética, a jovem barrada ao tentar fazer o Enem segue um rígido tratamento com remédios e alimentação desde quando descobriu o problema, há sete anos.
"Se ela (Isabela) fosse recomendada a retirar a bomba, poderia ter ocorrido algum episódio de hipoglicemia e ela não teria como fazer a prova", comenta a professora de endocrinologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rosângela Réa.
O dispositivo, que libera um fluxo contínuo durante o dia e doses maiores nos horários das refeições, é utilizado pela adolescente há cerca de seis meses. Outro tipo de equipamento é usado pela adolescente Bruna Dandara que também enfrenta a diabetes tipo 1. Ela foi diagnosticada após um ano e oito meses de vida.
A estudante opta por utilizar uma caneta com insulina, um equipamento semelhante a uma caneta tinteiro com um visor que mostra a dose a ser aplicada. Ela costuma fazer as aplicações sozinha ou com a ajuda dos pais, três vezes ao dia.
Após o diagnóstico da diabetes, a jovem também passou a conciliar a rotina diária com dieta, exercícios e tratamento. Bruna conta que costuma andar com um kit, composto por sachês de mel e doce de leite e glicosímetro, que ajuda a medir a quantidade de açúcar no sangue. "Todos os dias eu verifico meu açúcar, faço minhas refeições e injeto a insulina", afirma.
Dispositivos
Os dispositivos utilizados pelas jovens, bomba e caneta, são algumas das opções de tratamentos disponíveis para diabéticos atualmente. Todos eles contém insulina, hormônio que equilibra o nível de glicose do organismo. O uso de cada tipo depende da prescrição médica para o paciente.
O método mais utilizado, no entanto, ainda continua sendo o que dona Zaildes Silva, 65, escolheu: a seringa para a aplicação da insulina na barriga. A idosa é portadora da diabetes tipo 2, que atinge mais de 90% dos pacientes diagnosticados com a enfermidade no país.
Ela conta que herdou a diabetes dos avós e que lida com a doença há cerca de 10 anos. "Minha família toda tem e eu herdei. Não queria ter, mas, eu dou graças a Deus, porque consigo pelo menos sobreviver. Todo dia minha filha aplica a seringa com insulina e isso já faz parte da rotina", afirma a idosa.
A aposentada reconhece que já houve tempos mais difíceis para os diabéticos.
"Perdi familiares por causa desta doença, porque antigamente era pior, né? Todo mundo que descobria que tinha diabetes morria mais rápido", conta dona Zaildes.
Para a farmacêutica Sara Jung, isso acontecia porque antes da produção de insulina, os diabéticos eram orientados a parar de comer. "A produção de insulina em larga escala foi um divisor de águas, porque quando existia alguma anormalidade no paciente era recomendado que o ele não comesse. Não existia uma cura e sim partes empíricas de formas de cura. O diabético não tinha como sobreviver", diz.
Confira quadro com a evolução no tratamento da doença:
1869 - O estudante de medicina alemão Paul Langerhans identifica o grupo de células para produzir a insulina
1889 - Os fisiologistas alemães Minkowski e Joseph Von Mering descobrem a célula, que foi chamada insulina
1921 - Os professores de Fisiologia da Universidade de Toronto, no Canadá, John Mac Leo e Dr. Frederick Bantong extraem insulina de um cão e usam para tratar outro cachorro
1921 - O bioquímico James Colipe adapta a insulina para ser testada em seres humanos
1922 - Leonard Thompson, 14 anos, torna-se o primeiro paciente a receber insulina
1923 - Primeira produção de larga escalada da insulina
1951 - O bioquímico inglês Frederick Sanger descobre a primeira sequência de aminoácidos da molécula de insulina
1982 - A primeira insulina feita do DNA humano é aprovada nos Estados Unidos
1996 - Primeira insulina análoga de prevenção rápida é apresentada. O medicamento passa a ser feito a partir da sequência de células humanas
2000 - A insulina análoga de longa duração é apresentada aos pacientes diabéticos
2014 - Europa aprova a primeira insulina análoga basal, que a pessoa usa ao longo do dia.